Teoria da história uffs

A casa dos pequenos cubos

Para viver na casa de pequenos cubos é preciso coragem. Não há outra saída senão enfrentar o próprio tempo. Às vezes é preciso vestir o escafandro, submergir em águas profundas e promover o encontro com o passado. Mesmo que seja aterrador lançarmo-nos no abismo, atravessar a sufocante porta que nos leva ao encontro daquilo que já não é mais, daquele que nos abandonou definitivamente e que hoje vive na profundeza do esquecimento, é preciso ousadia para mergulhar nestas águas. O cachimbo nada mais é do que um indício, um rastro que nos leva a um encontro com o arquivo e com a memória. Ao buscá-lo, encontraremos outros. Encontraremos a palavra dita que foi silenciada, o sonho que não foi possível, o eterno que dissipou-se e o efêmero que ainda se mantêm. É nestes outros que também nos encontraremos, mas junto do cachimbo estará aquilo que nós já não somos mais. Para viver na casa de pequenos cubos é preciso continuar construindo-a permanentemente e erguendo novas paredes. A vida na casa não poderia continuar se não tivesse algo que sustentasse sua estrutura. Por outro lado, só é possível construir mais paredes porque aprende-se também dizer adeus. Afinal, a coragem ainda maior se revela naquele que sabe que só existirá memória onde houver também o esquecimento.

Esta coragem de viver na casa dos pequenos cubos talvez nos sirva de imagem para uma atitude necessária para enfrentar a teoria da História. Aqui, mais do que uma sequência cronológica de personalidades, queremos justamente pensar nas diferentes formas que fomos capazes de lançarmo-nos neste abismo. Seus escafandros são distintos, pois hoje sabemos que há muitas ferramentas que nos ajudam a respirar em um ambiente às vezes tão rarefeito. Nem mesmo o cachimbo será o mesmo, por isso, as imagens e as palavras que podemos encontrar ainda úmidas com água que não cessa de subir, poderão ser múltiplas. Mas todas elas falam do mesmo tema: a coragem de viver na casa dos pequenos cubos.